23 de abril de 2009

Enquanto o mundo explode

A engenharia cai sobre as pedras
Um curupira já tem o seu tênis importado
Não conseguimos acompanhar o motor da história
Mas somos batizados pelo batuque
E apreciamos a agricultura celeste.

Mas enqunanto o mundo explode
Nós dormimos nos silêncios do bairro
Fechando os olhos e mordendo os lábios.

Sinto vontade de fazer muita coisa...




12 de abril de 2009

Onde é que, no olhar da criança, começa o céu e acaba a terra?

Falando sobre a crise financeira que assola o mundo...

US$ 15 trilhões evaporados em questão de poucos dias, levando consigo imensas corporações, grandes bancos e tradicionais fábricas. E deixando para trás, em meio às frias estatísticas, as demissões em massa, o desemprego, a fome, o desespero, as lágrimas. Uma crise que não assolou a periferia, mas o coração do império.
As artimanhas sutis do capital procuram se refazer. Dizem - os economistas, as corporações transnacionais e os detentoras do poder - que o capitalismo vive de crises, e que esta é mais uma crise cíclica. Tentarão nos empurrar mais do mesmo, mais consumo, mais conflitos, mais individualismo. Porém, a crise atual é terminal! O desafio não é remediar o que não tem conserto, mas buscar novas alternativas.


O sistema atual, regido pelo capital e pelas leis de mercado, que, em sua natureza, é voraz, acumulador, depredador do meio ambiente, criador de desigualdades e sem sentido de solidariedade, atesta sua própria falência. Um sistema onde a cada quatro minutos uma pessoa perde a visão, em decorrência da carência de vitamina A, declara seu próprio fracasso. Um sistema onde a cada cinco segundos uma criança com menos de cinco anos morre de fome ou desnutrição, atesta a sua própria falência.Um sistema que criou desumanos sofrimentos e gritantes desigualdades.


O sistema vigente, que tem como pilar um individualismo avassalador, demonstrou-se incapaz de assegurar o bem-estar da humanidade. O individualismo que se revela na linguagem cotidiana: o meu emprego, o meu salário, a minha casa, o meu carro, a minha família...
Ninguém é levado a construir algo em comum, onde a competição, o acúmulo e a ostentação predominam em detrimento da solidariedade, da caridade e da compaixão.
Esse mesmo sistema faz com que as crianças aprendam tão cedo a conjugar o verbo comprar e desconhecer o que seja compartilhar.
O consumismo inconsequente e desenfreado cultua tanto os bens materiais, que associa o produto a um conceito de felicidade.

Por longas décadas, esse sistema alega não possuir recursos para promover a educação, a saúde e para aplacar a fome mundial, mas gasta tanto com guerras, conflitos e com a indústria bélica; se mostra capaz de mobilizar em poucas horas três trilhões de dólares para socorrer bancos, montadoras e corretoras, atestando seu próprio fracasso terminal.



Os limites do capitalismo são os limites da Terra.
Já encostamos nestes limites, tanto da Terra quanto do capitalismo.

Não podemos mais prosseguir com a perversa lógica do capital, baseada no acúmulo e no desperdício: "Quem não tem quer; quem tem quer mais; quem tem mais diz que nunca é suficiente."


Um único sopro,
uma única alma,
uma mesma esperança!




O texto se baseia em palestra proferida por Leonardo Boff, durante o Fórum Social Mundial. Belém, Pará, janeiro de 2009.
Slide 17